quinta-feira, 3 de maio de 2012

Consequências dos erros

Na estatística existem dois tipos fundamentais de erro. O erro do tipo I consiste em rejeitar uma hipótese verdadeira. Nesse caso, dizemos que o erro é FALSO POSITIVO. Exemplo: uma mulher não está grávida e o teste de gravidez dá resultado positivo.
Comete-se o erro do tipo II ao se aceitar uma hipótese falsa, situação conhecida por FALSO NEGATIVO. Exemplo: uma pessoa sabidamente portadora de HIV faz um exame de sangue com resultado negativo.
Além do erro estatístico, cuja qualidade é a previsão, também existe erro humano do dia a dia. Aliás, o erro não é só humano porque, de forma geral, os demais animais também erram.
Nesse caso, a diferença clara entre os humanos e os outros animais são as consequências decorrentes do próprio erro.
De vez em quando um macaco, ao fazer uma manobra mais radical, cai da árvore por ter errado na escolha do galho e, se o sortudo escapar ileso da queda, transforma sua experiência desastrosa em lição de vida, não repetindo mais o mesmo erro. Para ele, uma única experiência é suficiente. Caso não seja sortudo, poderá morrer na queda ou sofrer danos tais que a sua captura pelo predador fica facilitada, pagando, dessa forma, com a redução da sua longevidade o erro cometido. Segundo Darwin, é um caso de seleção natural complicando a vida dos que se dedicam pouca ou nenhuma atenção em seus pulos no dossel! (dossel é a cobertura contínua feita pelas copas das árvores de uma floresta)
Enquanto isso, um motoqueiro ao fazer uma manobra mais arriscada entre os automóveis e se acidenta, costumeiramente atribui o seu erro à fatalidade, "pura adrenalina", e, depois de refeito - dificilmente readquire a totalidade das funções -, volta a repetir o mesmo erro. O macaco não erra duas vezes; o humano, ao contrário, incide frequentemente no mesmo erro, considerando-o como inevitável e ao acaso cada vez que acontece. Da mesma forma que sucede com os macacos na selva, o motoqueiro também pode morrer no erro ou ficar penalizado pelo resto da vida com paralisias ou deficiências, também submetido à seleção natural de Darwin, só que em área urbana.
Além disso, os macacos aprendem com o erro dos outros do grupo a que faz parte. Quando um cai de um galho e a cena é testemunhada pelos demais, esses reduzem muito a frequência de visitas naquele maldito galho. Os humanos, por sua vez, vendo outros errarem, fazem a mesma manobra para demonstrar ao "bobo" que "eles são melhores". Ou seja, partem para o desafio, ato que os macacos não praticam.
Até os sapos aprendem com os próprios erros! Quando cursava a faculdade, nos idos de 1968, na cadeira de Comportamento Animal, hoje denominada Etologia (do grego ethos, "ser" ou "personalidade", logia, "estudo") realizamos experiências com sapos criados no ranário do Departamento de Zoologia.
Fornecíamos a eles insetos voadores de uma determinada espécie como alimento. Insetos esses desprovidos de veneno e de ferrão e que eram, provavelmente, muito saborosos aos sapos pois esses os devoravam em quantidade apreciável.
Existia uma outra espécie, também de insetos voadores, pertencente ao grupo das vespas, dotados de ferrão e com aparência extremamente semelhante aos da espécie que dávamos como alimento. 
Depois de alguns dias recebendo apenas um tipo de inseto na dieta, introduzimos alguns exemplares das "vespas". Notamos que os sapos não distinguiam um inseto do outro porque, afinal, tinham corpos muito parecidos na forma, cor e tamanho e comportavam-se de modos praticamente idênticos, diferenciando-se apenas na presença ou não do ferrão, um detalhe quase imperceptível. Ao fenômeno no qual uma espécie imita ou copia outra a Biologia dá o nome de mimetismo
Cada sapo capturava um inseto e o engolia; capturava outro e também o devorava; mas, ao capturar o portador de ferrão reagia instantâneamente "cuspindo" o que tinha na boca porque levava, muito provavelmente, ferroada na língua. A partir daí se desinteressa completamente pelos insetos que voavam ao seus redor, tinham ou não ferrão.
Isso, para nós, estudantes de Biologia da época, demonstrava que a aprendizagem dos sapos tinha sido tão marcante que se não fornecessemos outro tipo de alimento eles morreriam de inanição, de fome, mas não comiam mais nenhum daqueles insetos. A experiência serviu como lição única e definitiva.
Certa vez, ouvi o relato de uma professora da Educação Infantil, que as tomadas elétricas da escola tinham proteção para que as crianças não sofressem acidentes. Talvez movidas pela curiosidade algumas insistiam em remover a proteção e colocarem o dedo na tomada, o que as levava ao susto e ao choro de algumas depois do choque elétrico. As crianças então eram advertidas e aconselhadas a não mais mexerem nas tomadas. Passada um ou duas semanas elas repetiam o mesmo erro e, novamente, choravam.
A professora relatou que não teve jeito, tiveram que anular as tomadas que estavam ao alcance das crianças na Escola. Só assim para não terem mais esse tipo de choro, mesmo com as repetidas orientações sobre o perigo.
Será que o primeiro erro não foi suficiente para aprenderem?