quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O problema da água se chama Homo sapiens.

Diante da atual escassez de água temos, obrigatoriamente, que pensar demoradamente sobre esse assunto, refletindo profundamente e considerando o maior número possível de fatores e agentes que nos levaram a essa situação desesperadora.

As cidades, em sua imensa maioria, nasceram em margens de rios porque o rio representava fonte permanente de água, um bem essencial, e um meio acessível a todos para deslocamentos e transportes com o uso de embarcações. O custo do transporte simples em rios é nulo bastando, para tanto, um tronco de árvore trabalhado na confecção de uma canoa e uma vara para ser usada como remo. Com apenas esse tipo de utilização os rios se transformaram em bens a serem preservados com todo capricho.
 
Acontece, que os habitantes dessas povoações ribeirinhas, que se desenvolveram em grandes cidades, pouco ou nenhum valor deram a esse bem. Passaram a despejar nele os seus resíduos sólidos transformando-o em coletor de lixo. Era cômodo jogar o lixo no rio porque, levado pela correnteza, ele desaparecia da vista dando a impressão que o problema de destinação do lixo estava resolvido. Assim se sentiam conformados e confortados. O importante era se livrar do lixo! Ninguém, ou pouquíssimos, perguntaram "para onde está indo o lixo jogado no rio?".

Até hoje um número considerado de pessoas ainda continua usando o rio para se desvencilhar do lixo. Basta ver o Rio Tietê, o Tamanduateí, o Pinheiros com sacos de lixo boiando, poltronas, sofás, colchões e móveis velhos em suas margens além de quantidades incontáveis de garrafas pets flutuando e sacos plásticos.

A chuva que cai nas cidades também é muito bem vinda porque além de limpar o céu - as gotas da chuva carregam a poeira suspensa no ar para o chão - rega os jardins e áreas desocupadas e, ao originar enxurradas, carrega o lixo e a sujeira das ruas para os rios. Ou seja, a chuva lava a cidade levando embora a imundice e tudo aquilo que foi descartado nas calçadas, sarjetas e leito da rua. Até a poeira acumulada nos telhados!

Além disso, também os esgotos das cidades passaram a ser despejados nos rios. O leito do rio é a região mais baixa da cidade e, como o esgoto é aquoso flui por gravidade das regiões mais altas para as mais baixas através da rede de esgoto que termina em rios e córregos. No Brasil, estações de tratamento de esgoto ainda são exceções, raridades. Ou seja, continuamos despejando nos rios os esgotos in natura - do jeito que saem das residências -, poluindo-os assustadoramente.

Com lixo e esgoto o rio perdeu a nobreza, deixou de ser um bem a ser preservado, chegando a ser ruim para a cidade dada a proliferação de insetos, ratos nojentos, com sua água enegrecida e exalação constante de mau cheiro insuportável e, também, fonte de doenças.

Deixando de ser fonte de água consumível pelo homem, os rios das cidades, como fonte de água potável, foram abandonados e procurou-se água para consumo humano, em locais mais distantes, nos rios não poluídos que poderiam ser canalizados até as cidades. Para melhor proveito esses rios foram represados.

Com o aumento constante do consumo de água - as cidades estão crescendo - e a queda natural do índice de chuvas, a consequência inevitável é a falta d'água por momentos cada vez mais prolongados, tornando-se um problema grave no futuro pois, visto o desmatamento incontrolável e desmesurado que vem acontecendo, as chuvas se reduzirão ano após ano.

Um outro recurso de água potável é o lençol freático e o Brasil, nesse caso, é privilegiado porque possui nas profundezas do seu solo - principalmente na região de Cerrado - um depósito gigantesco conhecido como Aquífero Guarani, fonte das águas minerais que compramos.

Mas, o aquífero também está sendo comprometido! A irrigação das lavouras intensivas (agronegócio) é feita com água retirada do aquífero Guarani por meio de poços artesianos. E o consumo de água nessas áreas agrícolas é grandioso, de enormes proporções e, o resultado disso é o abaixamento do nível do aquífero. A subtração d'água do aquífero está se sucedendo em volume bem superior ao da recarga (reposição) que ocorre por infiltração das águas provenientes das chuvas no solo arenoso do Cerrado. Simplesmente porque as chuvas estão diminuindo.

Além disso, os lixões das cidades localizadas em regiões onde anteriormente era Cerrado (Goiânia, Brasília, Belo Horizonte, Uberlândia, Uberaba etc.), não receberam o tratamento adequado. Os chorumes oriundos desses lixões, material altamente poluente e contaminado, infiltram-se no solo arenoso e chegam a atingir o aquífero. Os agrotóxicos pulverizados nas lavouras são levados ao solo pela chuva e também se infiltram. Ou seja, estamos, na verdade, poluindo o aquífero!
Portanto, o problema não é a água, é o homem.

Perante tantos descasos o que se poderia fazer para resolver o problema, já sabendo que ele se agravará enormemente se nenhuma providência for tomada?

Sugiro:
1 - Preservar as áreas que abastecem o aquífero. Assim elevaríamos a reposição de água do aquífero Guarani.
2 - Já existe legislação a respeito mas nenhuma prefeitura tomou todas as precauções exigidas na construção de aterros sanitários. Deveria ser obrigatório cada município cuidar adequadamente do seu lixo - atualmente chamam de resíduo sólido.
3 - Programa de redução gradativa de poluição dos rios que passam pelas cidades. Londres e Paris conseguiram despoluir completamente seus rios. Despoluída, a água dos rios que passam por áreas urbanas poderia ser utilizada pelos cidadãos.
4 - Reaproveitar a água resultante do tratamento de esgoto em postos de gasolina (para lavar carros), irrigação de praças e água para descarga em sanitários. Processo conhecido por reuso.
5 - Educar o cidadão para que não jogue lixo ou qualquer outra coisa no rio e em nenhum outro lugar da rua ou da estrada porque esse material chegará ao rio carregado pela enxurrada das chuvas.
6 - Educar as pessoas para consumirem menos água. O cada cidadão europeu consome, em média, cerca de 110 litros de água por dia; o morador de São Paulo consome 205 litros por dia.
7 - Revisar o encanamento distribuidor de água nas cidades porque, por serem antigos, estão sujeito a muitos vazamentos, o que ocasiona perda expressiva de água.


segunda-feira, 11 de agosto de 2014

A dignidade do mensageiro

Participei como ouvinte, debatedor e expositor de inúmeros congressos, palestras, encontros de divulgação de trabalhos científicos, principalmente na SBPC, e simpósios no período no qual fiz a pós graduação. Concluída a pós, com menor assiduidade, continuei a frequentar esses eventos. O último evento foi uma palestra dada por um membro da equipe de clonagem da Dolly.

Um fato marcante percebido na graduação, reforçado no período de pós graduação, durante as discussões calorosas que se estabeleciam em alguns daqueles eventos, é que no curso dos debates os participantes usavam argumentos tanto a favor como contra as ideias. Foi notório que os debatedores restringiam suas críticas aos pensamentos expostos pelo apresentador enaltecendo ou não o próprio pelos seus resultados alcançados nas pesquisas sem denegrir, de forma alguma, a pessoa do pesquisador, respeitando a sua individualidade, por pior que fossem as suas conclusões.

Dito de outra maneira, nunca ouvi críticas ou elogios dirigidos ao mensageiro (pesquisador) que comunica más ou boas notícias (conclusões dos pesquisadores).



Por outro lado, nos últimos 12 anos tenho notado declarações dos governantes desfazendo, desmerecendo e depreciando, até ofendendo, os seus críticos sem em momento algum argumentarem contra as críticas das quais são alvos, com a intenção de invalida-las e aniquila-las de modo incontestável e definitivamente, encerrando-se, assim, de modo decisivo o assunto.  Indo além, chegam até a sugerir legislação visando censurar a imprensa que, segundo eles, se atreve a divulgar o que chamam de disparates.

Assim procedendo, chamam de "pessimistas especializados em criar ambiente negativo", "torcida para o Brasil dar errado", "traidores da pátria", "só veem o lado negativo do governo", "oposição", "elite branca" os que se atreveram a dizer que a inflação está aumentando - e realmente está! -, que a conta de luz terá que sofrer um elevado reajuste e o atual governo não a reajusta porque é ano eleitoral e, caso reajustasse agora sofreria prejuízos na eleição; que o que está acontecendo com a conta de luz também ocorre com os combustíveis (gasolina e diesel); que a Petrobrás sofreu forte desvalorização sob seu comando; ou simplesmente vaiar a governante ... etc.

Eu mesmo fui impiedosamente chamado de "torcer contra o governo" quando escrevi que "as contas de luz ficariam muito mais baixas se o governo investisse na rede transmissora o que possibilitaria o aproveitamento de energia eólica do nordeste que estão paradas justamente por falta da rede transmissora. Elas têm a capacidade de gerar 1.300MW. Por causa disso estamos usando energia gerada por termoelétricas e que custa muito cara, cujo custo adicional ainda não foi transferido para a conta de luz de cada um. A Dilma preferiu baixar a tarifa no início de 2014 subsidiando as empresas geradoras em mais de R$ 12 bilhões, demonstrando pouca inteligência ou muita incompetência ou uso desmesurado do Estado para sua reeleição. Agora, o governo está novamente subsidiando as empresas geradoras em mais R$ 6 bilhões.
A partir do próximo ano, seja qual governo for, teremos que pagar essa conta, ou seja, caberá a nós arcar com os custos desse dispendioso subsídio com juros e tudo o mais, por um simples capricho da Dilma.