sexta-feira, 13 de abril de 2012

Acrianos, os paulistas distantes no tempo!

Assistindo as reportagens na TV Globo - Bom Dia Brasil - fiquei sabendo que várias regiões do norte brasileiro, principalmente no Acre, as populações rurais estão com suas propriedades completamente inundadas com perda total da produção de milho, mandioca (na reportagem, um sitiante a chamou de macaxeira) e feijão por causa do transbordamento do rio Acre. A perda, segundo a reportagem, foi total e, por consequência, aquelas pessoas estão predestinadas a sofrerem de fome e, por não terem o que vender, de muita carência no próximo ano.
No mesmo dia, ao final da tarde, navegando pela internet, fiquei sabendo também que em São Paulo caiu uma chuva torrencial que causou vários pontos de alagamento. A reportagem noturna - Jornal Nacional - sobre essas inundações em diversos locais mostrou que o trânsito teve um congestionamento recorde de 220 km e os cidadãos entrevistados reclamavam muito do trânsito, dos ônibus e metro superlotados e a demora imensa para retornar para casa depois da jornada de trabalho. O repórter até comentou que o povo sofre.
Ambos os queixosos, os sitiantes do Acre e os moradores de São Paulo lamuriavam com lamentações intermináveis e que a nada levam. O morador do Acre atribuia a sua infelicidade ao tempo imprevisível do excesso de chuva e o paulista revoltado, por sua vez, acusava o governo e os políticos pelos seus transtornos.
Com tanta terra disponível, porque o acriano resolveu fixar moradia e cultivar uma área invadindo a parte que pertence ao rio Acre? Foi uma invasão de terra! Ou não?

O rio não reclama da invasão, não solicita desocupação e reintegração de posse, ele apenas se VINGA no devido tempo e para sempre do mal que lhe fazem.
Provavelmente escolheu aquele terreno pela facilidade da água - o rio - e tomou essa decisão sem pensar em nada além disso. Em nenhum momento levou em conta os dias seguintes e muito menos os tempos futuros, principalmente os chuvosos, já que, muito provavelmente, deve ter feito a escolha na seca com o rio no seu leito normal. Caso tivesse refletido um pouquinho só, teria percebido que aquela área está pouco acima do nível da superfície da água do rio e que seria invadida com o transbordamento dele, ou será que ele não sabia que os rios transbordam! Portanto, a causa dos seus transtornos não é o excesso de chuva mas o local que ele próprio deu preferência para viver. E para agravar ainda mais a situação desmataram integralmente as margens, fazendo desaparecer totalmente a mata ciliar tão importante na conservação das condições naturais da água e do rio por onde flui.
Os rios sempre invadem suas margens na época das cheias e sabemos disso desde a antiguidade dos egípcios com relação ao rio Nilo.
Os moradores ribeirinhos da Amazônia sabem muito bem disso e se preparam adequadamente nas palafitas.
Daqui a 100 ou 200 anos é quase certo que a região rural habitada pelo acriano se transforme em vilarejo, vila ou cidade e entre os culpados pelas futuras inundações terá, entre eles, um descendente seu, talvez prefeito do local que, por sua vez, apoiado pela câmara de vereadores, decidiu sobre a ocupação do solo em épocas secas e com aprovação maciça da população, a mesma que se volta contra ele quando chove muito. Como os dias chuvosos são em menor número do que os sem-chuva, a população acaba esquecendo as contrariedades.
A seca faz esquecer a lembrança dos problemas da água ou quando a secura é intensa a inundação torna-se até desejável.
Em São Paulo, todos aplaudiram o governador Adhemar de Barros quando iniciou, em 1946, a retificação do Rio Tietê para posterior construção das marginais desse mesmo rio, construção essa que teve grande avanço durante o governo Prestes Maia.
Essas obras representavam progresso e todos aplaudiram, a não ser alguns poucos mais lúcidos e conscientes que naquela época já anteviam os problemas que atualmente vivemos e que, por contestarem as obras, foram tratados com desprezo arrogante e severamente criticados por estarem "contra o progresso". Garanto que tudo isso aconteceu quando choveu pouco ou se ela aconteceu foi em intensidade insuficiente para dar razão aos preocupados com as futuras enchentes e a decepções que causam!
Por que então os políticos fazem obras que futuramente ou em determinadas condições acabam mais transtornando do que facilitando a vida do cidadão? Para mim, isso acontece porque o político é um cidadão igual a qualquer outro e que foi escolhido pelos seus iguais para ocupar o cargo que ocupa, completamente despreparado, levando consigo os mesmos defeitos e qualidades dos cidadãos comuns, ou seja, "o terreno é bom, a água está próxima então aqui vou me instalar e viver o resto da minha vida. Que maravilha!" e se alguma coisa alterar para pior arrumarei um culpado e, se por acaso eu for político, procurarei obter vantagens principalmente eleitoreiras.
Ingênuo é aquele que acredita em solução das enchentes em São Paulo e dos coletivos (ônibus, metro e trens) e muito menos do trânsito. Afinal, rendem muitos e muitos votos.
Vejam na foto como eram os coletivos na cidade de São Paulo na hora do rush em 1937. Continua tudo como antes!!!!!!!! Não me venham dizer que antigamente era melhor!!!!!!!

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Homo sapiens sapiens informatilis obsoletus

Dia 09/04/2012, tarde da noite, assisti a palestra proferida pelo sociólogo Laymert Garcia dos Santos, da UNICAMP, no programa CPFL cultura da TV Cultura (SP), ocasião na qual apresentou as suas brilhantes e originais ideias a respeito do homem e do mundo moderno.
Dia seguinte, realizando uma pesquisa na internet a respeito dele já que me era desconhecido, constatei que é de grande notoriedade na Sociologia, ilustre e célebre e, por causa disso, muito requisitado para palestras. Face ao que fiquei sabendo eu o reverencio e torno público os meus respeitos e considerações para com ele.
Uma das ideias que apresentou no programa, consistia em explicar porque o homem está se tornando rapidamente obsoleto em função do mundo que ele mesmo está construindo e que o futuro disso é totalmente incerto.
Para justificar tal afirmação, usou como exemplo o jogo de videogame praticado por jovem ou adulto. Nessa situação, o jogador não dispõe de tempo algum para meditar sobre o que está fazendo, executando as manobras de forma totalmente condicionadas pelo que vê, sendo mantido, durante o período do jogo, com absoluta escassez de tempo para pensar e, por consequência, impossibilitado de ponderar sobre a jogada.
Completando as ideias do sociólogo, considero que os jogos acontecem na base da tentativa e erro que conduzem inevitavelmente ao desenvolvimento dos reflexos pavlovianos* de estímulos apenas exteriores, desacompanhados de pensamentos.
Para mim, a máquina impede o participante de pensar durante as horas do jogo, de semanas, de meses e dos anos seguidos em que é usada! Com o passar do tempo, pouco a pouco, de modo imperceptível e quem sabe irreversível, o praticante de videogame perde o hábito de refletir, de pensar e de examinar com atenção e minúcia os acontecimentos, de avaliar, de apreciar e principalmente de julgar.
O condicionamento é tamanho que o praticante frequente dessa modalidade de competição, seduzido pelo jogo, gasta boa parte do seu tempo ocioso se "desmentalizando". Assim concluo!
Segundo o sociólogo, os fatos e as circunstâncias que cercam o homem atual exigem dele respostas com tamanha rapidez que o cérebro não dispõe do tempo que naturalmente consome para efetuar um processamento apropriado e conveniente.
A informática e os meios de comunicação mudam rapidamente e de forma bastante diversificada. As informações que a nos chegam são muitas e de tão rápidas que perturbam as nossas mentes e sentidos, dificultando o raciocínio, nos assombrando. Desorientados e incapazes de organizar mentalmente essa incrível quantidade de informações por absoluta falta do tempo indispensável para o devido processamento mental, permanecemos inconscientes sobre o que ocorre em nossa volta, por maior que seja o nosso interesse ou esforço, e isso nos aflige e atormenta.
Esse mundaréu de informes embaralha nossos pensamentos, nos confunde cada vez mais!
A principal qualidade do homem inteligente, racional, é sem dúvida a capacidade de reflexão. As coisas acontecendo como estão não nos dão o tempo necessário que deve existir entre a informação e a decisão, a reflexão.
Estamos deixando de ser o Homo sapiens sapiens para sermos o Homo sapiens informatilis. E, nessas condições, precisamos recorrer às máquinas para tomar decisões por nós por serem muito mais capazes de processar informações em quantidade em tempo de milisegundos!!!! E, como consequência, estamos virando reféns cada vez mais dependentes dessas máquinas.
Além disso, tomando agora a nossa base biológica, deixando de lado um pouco as ideias do sociólogo Laymert, também construimos um mundo de fartura e de fácil acesso ao alimento. Acontece que, segundo a ideia de SELEÇÃO NATURAL, o homem foi selecionado para se empaturrar de comida quando conseguia ter sucesso na caçada e passar, depois disso, dias e dias sem comida, atingindo grau elevado de fome até conquistar a nova refeição. Nosso organismo foi selecionado para essa falta de comida e não para o excesso!
Mudamos o mundo mas não mudamos a nossa genética. Com comida a bessa conseguimos instalar uma epidemia de obsidade e suas consequentes morbidades.
Enfim, criamos um mundo que não conseguimos saber mais o que está acontecendo e ficando paquidermicos, lentos, preguiçosos e encurtando a vida!! Pesadões como estamos nos tornando, buscamos meios mais rápidos de locomoção como carros cada vez mais velozes e nos utilizando intensamente de viagens aéreas com abandono total do navio. Esse último é tão lento quanto nós e também obsoletos!!!!
Consequência de tudo isso; está nascendo a espécie Homo sapiens sapiens informatilis obsoletus.
Isso é ser civilizado?
(*) A ideia básica do condicionamento clássico consiste em que algumas respostas são reflexos incondicionados, ou seja, inatas; os reflexos condicionados (pavlovianos) são aprendidos e criados por meio da repetição consistente das condições.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Metamorfose ou desmascaramento de caráter

Depois que escrevi que o fanatismo cego cega, pensei em desistir de continuar escrevendo sobre política. Acontece que os acontecimentos atuais são tão marcantes que não resisti. A tentação de escrever sobre política venceu o meu desejo de abandonar essa prática. Afinal, cada um tem o seu lado político que vive conosco por toda nossa vida. A partir disso e acrescentando o que afirmou Oscar Wilde - "posso resistir a tudo, menos às tentações" -, justifico meu ato atual.
Demóstenes Torres, Senador da República, do DEM, depois de passar vários anos representando o papel de político honesto e de ilibado comportamento, missionário da ética e impiedoso acusador dos participantes do mensalão do PT, praticava, na realidade, no exercício do seu mandato que conquistou nas urnas e não soube honrar, atos tão ou mais corruptos que tanto dizia combater. Todos viam nele um valente defensor da ética política.
Hoje, com regojizo, os corruptos podem dizer dele o que ele disse a respeito deles.
Percebe-se nesse episódio o comportamento bem diferenciado entre o PT (Partido dos Trabalhoes) e o DEM (Democratas), antigo PFL. O DEM, antes mesmo de efetuar uma investigação já decidiu, perante a consistência das acusasões e provas, excluir o Senador do seu quadro de afiliados.
As acusações contra os PTistas efetuadas por Roberto Jefferson ao denunciar o "mensalão" do PT em 2005, os fatos e provas acusativas em 2004 no caso dos escândalos dos Bingos, o escândalo dos Correios também em 2005, a morte do prefeito Celso Daniel em 2002, as gravações de Wladimir Diniz (que prova mais contundente que essa!), a dança da pizza em 2006, o valerioduto do Marcos Valério vieram a tona com intensidades muito mais complexas, profundas e reveladoras do que hoje acontece com Demóstenes e também tão decepcionantes e frustadoras.
O PT na época, diferente do DEM, simplesmente nada fez; ao contrário, o próprio presidente Lula saiu com discurso defensor dos acusados e as coisas ficaram como estavam e nenhuma providência foi tomada, ou seja, silêncio total mesmo sabendo de algo negativo praticado por "companheiros", os PTistas não fizeram nada para impedi-lo, embora pudessem fazê-lo.
Os PTistas tinham, antes de assumirem o poder e de virarem situação, quando ainda na oposição, as mesmas e idênticas atitudes do Senador Demóstenes de veemente batalhadores contra corrupção, corruptos e corruptores e que, ao assumirem o poder, como por milagre (ou melhor, como disse o Lula, POR METAMORFOSE!) adotaram a postura pacífica com o que mais diziam detestar, principalmente quando os denunciados eram seus correligionários (aqueles que compartilham e seguem os mesmo princípios).
Demóstenes, em suas participações em CPI tinha um discurso e convincente de honesto e de quem defende a doutrina dos bons e saudáveis costumes. Agora a máscara caiu; uma pena! Fomos totalmente enganados!
Quanto a esses aspectos será que existe dentro de cada PTista um Demóstenes?
Será que ao se referir à metamorfose, Lula estava se dizendo que a mudança que estava em curso, na época, era de aparência, de caráter e de acordo com a circunstância que, por sua vez, revelava o ladrão escondido, a "máscara de Demóstenes", e disfarçado em cada um dos PTistas?