segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Avaliação e BNCC

     Tenho acompanhado de perto as mudanças propostas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), tanto em palestras como nos materiais especialmente produzidos sobre ela.
     A BNCC estabelece conhecimentos, competências e habilidades que se espera que todos os estudantes desenvolvam ao longo da escolaridade básica. 
     Até 2022 a reforma deverá estar completamente implantada - segundo as previsões atuais! - quando, então, o jovem poderá optar por uma formação técnico-profissional dentro da carga horária do Ensino Médio, sendo 1.800 horas-aulas dedicadas ás áreas do conhecimento e 1.200 horas para os itinerários formativos, totalizando 3.000 horas. 
Atualmente (2019) são 800 horas/ano em 200 dias letivos, totalizando nos três anos 2400 horas-aulas. Portanto, um adicional de 600 horas-aulas repartidas entre os três anos do Ensino Médio.
     Segundo as declarações dos divulgadores, considerados como interpretadores da BNCC, o aluno passa basicamente da condição de passivo para a de ativo - protagonista - na aprendizagem e, ao mesmo tempo, responsável pela decisão que irá tomar na sua formação no Ensino Médio ao selecionar seus itinerários. Para tanto, será adequadamente preparado no Ensino Fundamental.
     As escolas até agora apoiaram-se em disciplinas estanques (Português, Matemática, Ciências, Filosofia ...) e muito conteúdo - chamadas, por isso, de "conteudistas - no seu trabalho educacional. 
     De modo geral, predomina o ensino isolado de cada disciplina e poucas e raras interdisciplinaridades são, ou foram, concretizadas entre uma e outra. Em filosofia só se ensina filosofia, em matemática só matemática e assim por diante. Os professores dessas disciplinas são os chamados de "especialistas"; o ensino é fragmentado e poucos são os momentos holísticos nas escolas. A partir de 2022 os ensinos serão por áreas de conhecimento, o que exige interdisciplinaridade e multidisciplinaridade. Para atingir esse estágio de ensino os professores "especialistas" deverão alterar radicalmente suas práticas em aula. No mínimo, terão de ser polivalentes.
     Teremos professores nessa nova situação? Sim, desde que devidamente qualificados. E aí está o grande problema: como qualifica-los em tão pouco tempo?

     A partir de agora, além do conteúdo, as escolas deverão também voltar suas atenções para as competências socioemocionais - aptidões não cognitivas que dizem respeito como os alunos se relacionam com o mundo e o mundo com eles.
     Surgem, então, as listas dos grupos de competências, tendo como base a Inteligência Emocional de Daniel Goleman (psicólogo canadense): amabilidade, engajamento, resiliência emocional, autogestão e abertura ao novo.
     Amabilidade como sendo a competência de relacionamento pessoal incluindo empatia, respeito, ética e confiança; 
     Engajamento como iniciativa pessoal, a assertividade e o entusiasmo; 
     Resiliência emocional habilidade que incentiva a autoconfiança e a tolerância ao estresse e à frustração; 
     Autogestão como ter foco, responsabilidade, determinação e persistência; 
     Abertura ao novo inclui curiosidade para aprender, imaginação criativa e interesse artístico.
     Acredita-se, por princípio, que as escolas trabalhando conteúdo e competências socioemocionais com todas as suas habilidades estarão formando integralmente o cidadão do futuro, isto é, preparando os educandos para a vida atual e a que está por vir.
     Um dos aspectos que a escola tem, de início, é a de dar atenção, nessa nova visão educacional, ao processo de avaliação e a mensuração educacional. Hoje, o aluno tem a sua avaliação atrelada principalmente às provas, trabalhos que produz a eventos das quais participa. De modo geral, a avaliação é concentrada no conteúdo aprendido e apreendido e tudo é transformado em uma nota.
     A BNCC, além do conteúdo, trata de competências e habilidades: como avaliá-las? 
     Como avaliar competências e habilidades quando, por séculos, só se avaliou conteúdo? 
     É claro que existe processos para avaliar competências mas que estão sob domínio de pouquíssimos profissionais da educação. 
     Acontece, que o professor deverá, a partir de 2022, avaliar competência em todas as escolas e todos os bimestres e graus de ensino. 
     Algo deve ser feito para superar esse obstáculo.
     Acredito que aí está o nó górdio da reforma!