sexta-feira, 31 de julho de 2015

Primeiro que apareceu



     Dirigindo o meu velho Opala, acompanhado do Carlucho (in memorian), professor de Física, numa tarde ensolarada de sábado retornávamos de Marília, ansiosos por chegar em casa, após termos dado aulas naquela manhã. Ele costumeiramente era meu caronista. 
     A viagem de Marília até Ribeirão Preto, onde morávamos, durava, na época, cerca de 5 horas. A estrada era esburacada, muito movimentada por caminhões de cana e de laranja e de pista simples. Pouquíssimas chances de ultrapassagens nos quase 300 km de distância.
     Depois de trabalhar a semana em diversas cidades como São José do Rio Preto, São Carlos, Araraquara e, por fim, Marília, eu e o Carlucho só tínhamos um desejo: chegar em casa para curtir o final de semana. 
     O nosso final de semana era curto porque durava das 17h de sábado, quando chegávamos a Ribeirão, até a segunda de madrugada (mais ou menos 3h 30min) quando saíamos para São José do Rio Preto onde tínhamos que estar para a primeira aula da segunda-feira, as 7 horas.
     Pois bem, numa destas viagens de retorno de Marília, próximo à cidade de Itápolis, fomos parados por Policiais Rodoviários de um posto a beira da estrada. Estas paradas sempre nos chateavam porque significavam retardar a nossa chegada. A única parada programada era para o almoço num restaurante próxima à cidade de Guarantã.
     O policial pediu-me os documentos e depois de constatar que estavam em ordem fez a seguinte acusação:
- Estava em velocidade acima da permitida naquele trecho, apontando a longa descida lá atrás, por onde havia acabado de transitar.
- Eu costumo controlar a velocidade e acho difícil que isto tenha ocorrido, já fora do carro.
- Está vendo aquela pedra branca lá no topo da estrada, no acostamento? disse o policial.
- Sim.
- Lá no pé da descida, sobre uma árvore, tem uma pano vermelho. Vê ele?
- Sim.
- Note, também, que na pista tem uma faixa branca pintada ao lado da pedra e outra, da árvore. A distância entre as duas faixas é de 1.000 metros e, para melhor visualiza-las no binóculo, colocamos a pedra e o pano vermelho.
- Quando o senhor passou pela pedra acionei o cronômetro e o desliguei quando passou pelo pano vermelho.
- Hummmm.
Mostrando-me o cronômetro comentou,
O senhor percorreu o trecho em alguns poucos segundos (não me recordo exatamente dos números) e isso significa que estava a aproximadamente 102 km/h quando o limite é de 100 km/h. Na época não existiam os radares e as multas por excesso de velocidade eram assim realizadas.
- Quando eu descia pela estrada fui ultrapassado por uma camionete e o senhor não a parou. Deveria te-la parado. Com certeza ela estava em velocidade superior a minha!
- O senhor foi o primeiro que apareceu no topo da estrada e o seu carro foi o que segui. Sei da sua velocidade no percurso. Também o vi sendo ultrapassado mas, como não o estava acompanhando o outro, nada fiz. E nada poderia fazer porque não teria uma velocidade cronometrada para lançar na multa enquanto a do senhor eu tenho. A lei exige isso.
Ouvindo a conversa, o Carlucho mostrou para ele as contas sobre a velocidade percorrida e deixou o policial em dúvida. Lembro-o que não era possível tamanha precisão de cálculos. Impressionado com a aula que o Prof Carlucho deu a ele, nos perguntou o que éramos.
O Carlucho respondeu que "somos professores, demos aulas hoje de manhã em Marília e agora são 15h e ainda estamos na estrada e loucos para chegar em casa. E essa parada está nos retardando por no mínimo 30 minutos".
Foi então que ele, surpreendendo, nos cumprimentou por sermos professores, teceu uma série de elogios para a nossa profissão e confessou o quanto admirava os professores e, não lavrou a multa.
Desejou-nos boa viagem e nos liberou.
O pessoal do PT vive se queixando que os outros partidos também fizeram as mesmas falcatruas, acusando diretamente o PSDB. O Lula não cansa de dizer que o PT está sendo perseguido nas investigações enquanto os outros partidos, não. 
SERIA BOM ALGUÉM DIZER A ELE QUE ELE FOI O PRIMEIRO QUE APONTOU, ou se mostrou, NO TOPO DA CORRUPÇÃO.