sexta-feira, 22 de junho de 2012

Com tudo do nada!

Com a poibição determinada pela lei de se fumar em locais fechados e, além disso, também em abertos de determinados tipos de estabelecimentos, como escolas e hospitais, por exemplo, passamos a observar constantemente pessoas que saem dos prédios e permanecem nas calçadas em frente, fumando.
Já repararam no comportamento delas?
Pois bem, outro dia, da janela e distante, sem dar na vista, observei atentamente uma dessas, desde o momento que saiu do prédio já retirando o cigarro do maço até lançar longe, sobre o asfalto, a bituca daquele cigarro que havia acabado de se deliciar e, ao mesmo tempo, enquanto se virava para voltar, levantava a cabeça e expelia para cima o jato fumacento da última tragada, deixando, pairado no ar, o seu rastro que rapidamente se desvaneceu por entre os transeuntes.
O seu primeiro gesto, o de retirar o maço do bolso, já demonstra o apego extremo que mantém pelo vício, pois chegava à calçada com ele na mão.
Os gestos são precisos, numa das mãos o maço e na outra, o isqueiro. Demonstrando habilidade com coordenação perfeita pois coloca o cigarro na boca, acende o isqueiro e já traga profundamente. Gasta, para isso, décimos de segundos.
A fumaça, na primeira tragada, de tão intensa e profunda deve chegar até a alma dele. Ainda bem que não existe doença da alma que possa ser causada pelo tabaco!
Depois da primeira tragada, o fumante permanece quase que totalmente imobilizado. Em pé, com o olhar voltado para a rua, fixa seu olhar em não sei o que e assim permanece. Mais uma tragada; mais outra e continua na mesma. Chega outro colega na mesma condição e os dois permanecem próximos, mas muito distantes porque não se conversam e nem ao menos se entreolham. Cada um com o seu olhar distante, no infinito, perdido e talvez sem ver nada. Olha mas não enxerga coisa alguma pois não está ali para isso. Suga a fumaça e a expele em seguida sem nada ver!
Será que está pensando em algo? Acredito que não! Durante esse tempo toda a sua atenção e dedicação se restringe a barra branca cilindrica nicotínica em sua mão e principalmente nos lábios.
O semblante mostra relaxamento, os gestos inicialmente bruscos tornam-se aos poucos serenos, amainam.
O movimento de lançar a bituca para longe é rápido, rude e dar as costas para o local onde ela caiu ao iniciar o caminho de volta demonstra, acredito eu, um certo arrependimento do que fez. Assim feito, rapidamente abandona o local caminhando em direção à porta de onde saiu. Desaparece. Entra no prédio e a calçada vazia fica ali, aguardando-o para nova sessão desse ritual tabagistico.
Perguntei a um colega fumante sobre o que pensa enquanto fuma na condição de isolado de todos e desligado do mundo!
-Nada!


quarta-feira, 6 de junho de 2012

In victimia

Quando Lula centrou seu plano no estímulo ao consumo como forma de superar a crise de 2008, por ele menosprezada ao qualificá-la de "marolinha", foi, na época, severamente criticado pelos economistas de plantão que compararam o plano, apesar de momentaneamente bem sucedido, ao voo da galinha (voo curto, de baixa velocidade e perigosamente muito próximo ao chão e aos obstáculos).
Uma das críticas mais contundentes se contrapunha ao gasto excessivo que as famílias passariam a ter em decorrência da expansão do crédito e da retração da taxa de juros estabelecidas no plano, porque o consumo do brasileiro se encontrava demasiadamente reprimido. Em consequência, afirmaram eles, o cidadão assumirá dívidas excessivas, o que não era aconselhável porque a população se encontrava despreparada para administrar as próprias finanças de consumidores desmedidos. Diziam que as "famílias se afogariam em dívidas"!
Além disso, os incentivos fiscais para reativar as compras de carros privilegiava apenas um setor da economia como se todo o Brasil dependesse apenas de vendas de automóveis. Aliás, segundo os estudiosos, esse incentivo era um convite à inadimplência.
Nos EUA, o governo e as instituições financeiras haviam feito o mesmo com relação às moradias que, por sua vez, acabaram conduzindo à crise de 2008. Os norte-americanos endividaram-se demasiadamente tornando-se inadimplentes e a crise de lá se instalou com a quebra dos bancos financiadores dessa euforia (ou farra!) de financiamentos por casa própria, começando pelo Banco Lehman Brothers, pivô da crise de 2008.
Os economistas alertaram que plano parecido com esse já tinha sido praticado em outros países e os resultados se mostraram paliativos pois resolviam a situação econômica do país somente naquele momento e não contribuiam para o crescimento do sistema produtivo além de inibir o investimento privado, ou seja, em nada colaboravam para o desenvolvimento do país e o fortalecimento da economia.
Alguns críticos foram além ao acusarem Lula e seu governo de incompetentes e incapazes de elaborarem um plano mais abrangente e de efeito duradouro e consistente.
Diante do volume de críticas, Lula veio a público, por várias vezes, afirmando que "estavam apostando contra ele e torcendo a favor da crise"! Colocou-se como vítima, como injustiçado e incompreendido.
COITADO!!!! Não tinha recebido nenhum reconhecimento!!!!
Hoje, perante os resultados da economia atual, somos obrigados a aceitar as críticas dirigidas ao plano de Lula. Tudo, absolutamente tudo que a imprensa publicou dos críticos tornou-se, infelizmente, realidade. Dessa vez, os economistas acertaram nas previsões. Coisa rara!
A economia do país continua estagnada com PIB baixíssimo; com índice de inadimplência mais alto de todos os tempos; as famílias super-endividadas; a indústria sendo desmantelada pouco a pouco (o Brasil está num processo de desindustrialização); voltamos a exportar somente commodities.
E, para agravar, a presidente Dilma reaplica o plano de Lula em 2012, voltando a incentivar a indústria automobilística....... . Com uma diferença, ela aumentou os impostos sobre cerveja, refrigerante e água mineral.
Se Lula tivesse hombridade, dignidade, honradez e coragem, deveria vir a público e declarar que os seus críticos estavam corretos e que se fez de vítima. Pediria desculpas para a imprensa que ele mesmo acusou de estar fazendo propaganda contra e enganosa, publicando somente coisas que o depreciava. Novamente in victimia. E confessaria sua incompetência para estadista.
Por fim, in victimia é expressão latina de "fazendo-se de vítima".