segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Feijão da política!

Vamos supor que dispomos de uma tonelada de grãos de feijão colhida há muito tempo e resultante de uma safra prejudicada por colheita malfeita, com desrespeito aos procedimentos agrícolas recomendáveis, conservados em armazéns impróprios e transportados de modo inadequados. 
Esse feijão destina-se à alimentação de uma população humana, de uma cidade brasileira, por aproximadamente três meses.

Em consequência do manuseio incorreto temos poucos grãos íntegros, ideais para o consumo humano. Grande parcela desse lote de feijão encontra-se deteriorada, por diversos motivos.

Esses grãos podem apresentar os seguintes danos:
1- carunchados (ou gorgulhados). Grãos perfurados pelos carunchos, contendo fezes, urina e secreções desses pequenos animais.
2 - embolorados (contaminados por fungos). O bolor se desenvolve em grãos estocados com umidade acima da aceitável. Alguns desses fungos secretam uma toxina, a aflatoxina, resistente ao cozimento, de elevada toxidez e que pode causar câncer no fígado.
3 - quebrados com regiões de apodrecimento. Falta parte do grão e a superfície de fratura apresenta-se escura.
4 - com os cotilédones separados, isto é, grãos partidos ao meio,
5 - vazios, sem conteúdo. Só restou a casca. Por algum motivo perderam o conteúdo,
6 - engorovinhados*, isto é, grãos poucos desenvolvidos (pequenos) com rugas e vincos na superfície. Esse tipo de grão costuma interferir negativamente no sabor do feijão cozido.

Diante dessas condições, o que normalmente se faz é submeter o feijão ao processo de escolha (ou de seleção). Nesse processo, o feijão é separado em grãos inteiros (íntegros) e grãos a serem descartados, os danificados.

Após a "escolha" nota-se que a sobra é insuficiente para nutrir a população, em decorrência do descarte de grande quantidade de grãos deteriorados. Ao final, quase nada é aproveitável.

Feito o cozimento dos grãos melhores, o que se nota é que a quantidade de feijão cozido é suficiente para nutrir as pessoas por apenas uma semana. E a necessidade é de três meses. 
O feijão pronto é de baixa qualidade pois trata-se de um feijão velho, que após cozimento fica com consistência acima de "ao dente".
O sabor não é agradável e a tendência é a de que as pessoas o rejeitem no prato. Desse modo, boa parte dele será deixado de lado e descartado como resto de alimento, depois de tanto trabalho e gasto.
Por fim, muito se despendeu em dinheiro e tempo, para uma quantidade insatisfatória de alimento!

Diante disso, o remédio é dar um jeito nesse feijão, já que não se dispõe de outra fonte.
Então, fazer o quê?

Aproveitar alguns grãos que foram descartados, ou seja, fazer uma nova escolha, menos rigorosa. Com isso, a quantidade garantirá boa parte da nutrição desejada, apesar de não ser a ideal. Daria para alimentar as pessoas adequadamente por um tempo inferior ao que se desejava.
Descartar, sem nenhum reaproveitamento, os grãos embolorados (podem causar sérios danos à saúde daqueles que consumirem o tal feijão).
Cozinhar o feijão com alguns dos gorgulhos porque a presença deles (insetos) aumenta o teor proteico do alimento, sem alterar o sabor, ou seja, eleva a qualidade nutricional do alimento. É um ato que contraria a nossa tradição alimentar pois fará com que as pessoas consumam alimento bichado.
Carregar no tempero para tornar esse feijão mais palatável (saboroso ou aprazível ao paladar)

Essa descrição foi um recurso que decidi usar para, de modo didático, analisar a nossa situação eleitoral atual, segundo o meu ponto de vista.
Acredito que estamos exatamente como descrevi sobre o feijão para a nutrição de brasileiros por algum tempo.
Nossos políticos estão malcuidados, praticamente não temos nenhum íntegro, totalmente probo, irrepreensível na sua conduta; honesto, incorruptível. Muitos faltam com a verdade! Aliás, a verdade é a primeira vítima no período eleitoreiro.
Insisto em dizer que só não encontramos corrupção onde não a investigamos ou procuramos.
A grande maioria deles é de velhos políticos tentando a reeleição. No geral, estão mal-intencionados com relação aos cargos para os quais se candidataram e as intenções não são exatamente aquelas que divulgam durante a campanha.
Deverão ser preparados (temperados e cozidos adequadamente) para serem aceitos e não poderemos ser rigorosos nas escolhas porque, se assim procedermos, não sobrará nenhum. Como prepará-los? Eles só funcionam sobre pressão popular, da mesma forma que o feijão só fica bem cozido em panela de pressão. 
A última vez que vimos isso foi quando, sobre pressão popular, aprovaram a Lei da Ficha Limpa.
Alguns devem ser, a princípio, descartados. Não devem estar na vida de ninguém pois são altamente prejudiciais.
(*) Também se usa engruvinhados.

2 comentários:

  1. Excelente texto professor, didático e realista. Acho que como o Sr. mesmo expõem, o diferencial desta eleição para as anteriores é que a população tomou o choque da realidade com a lava a jato. Os políticos são os mesmos a 30 ou 40 anos e suas práticas também, mas o diferencial é esse a tomada de consciência de como somos enganados e manipulados. Em seu texto o Sr dá inclusive a solução: pressão popular. Essa é a única forma de fazer democracia.
    grato

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