domingo, 28 de agosto de 2022

Violência contagiosa

Um exemplo recente de pânico coletivo, ainda vivo na memória das pessoas, é o que a mídia nacional e internacional fez nascer e crescer no povo em relação à covid-19. 

As notícias davam mais importância às mortes do que ao risco que a doença representava - cerca de 1,2% dos doentes morriam -, com a intenção nítida de assustar e aterrorizar por um motivo não bem esclarecido. Outras doenças com maior incidência de mortes não receberam, na mídia, o mesmo tratamento; sequer eram mencionadas durante a pandemia. Covid-19 passou a ser a única preocupação.

Daí, a orientação do "fique em casa" como meio de evitar o contágio e a disseminação do coronavírus foi prontamente obedecida pela população. A psicologia nos ensina que pessoas com medo e em pânico são mais obedientes. O convencimento foi tal que o medo da doença superou o medo de perder emprego e renda. Diziam que o emprego, a renda e a economia do país ficariam para depois.

O depois chegou, os empregos e renda não! Os auxílios emergenciais vieram para dar certo apoio aos infelizes submissos. Mas, com o decorrer do tempo os empregos estão sendo recuperados, as rendas também e, no entanto, mesmo com as vacinas, a covid-19 continua em estágio de matança nos noticiários.

Segundo a cientista Sherry Towers*, esse espalhamento do pânico descontrolado aconteceu exatamente como uma epidemia com alastramento estimulado, nesse caso, pela mídia. Os estudos dessa pesquisadora levam a acreditar que comportamentos como pânico, medo e violência são contagiosos e, para tanto, a participação da mídia - ou divulgador - é fundamental.

Uma pessoa mentalmente equilibrada na presença de uma em pânico ou medo tende a absorver esses comportamentos e transmiti-los adiante. Para reforçar a ideia vamos a um exemplo usando o relato de uma pessoa medrosa como disseminadora do medo: "quando eu passei naquele lugar à noite ouvi um som estranho e fiquei sabendo que ali um homem se matou há cerca de uma década, fiquei com muito medo e corri". Ouvindo essa narração acredito que ao passar por esse lugar irá dela se lembrar e também ficará com medo. Aquele que te contou a história comporta-se de modo análogo ao da mídia. Se não tivesse sabido da história ou se o relato tivesse ocorrido sem conotação de temor, passaria pelo lugar tranquilamente e em paz.

Quando a mídia noticia o tempo todo fatos de violência acompanhados de observações do tipo "que absurdo!", "é muita crueldade", "os bandidos estão todos soltos", "mata-se em todo lugar (rua, sítio, residências, clubes, no interior do próprio carro - ideias reforçadas principalmente pelo repórter Datena)", "mata-se por nada", "a lei não é aplicada" etc. acabamos incorporando certa violência porque gostaríamos de "matar esses bandidos", "prendê-los e nunca mais soltar", "levá-los para longe de você" etc. De algum modo, a reação à violência costuma ser uma forma, mais branda, mas também de violência. Exemplificando: quando um assaltado reage ao assalto atirando ou lutando ou empurrando o assaltante está praticando violência. A violência do assaltante desperta a violência do assaltado!

Além dessa forma de disseminação contagiosa da violência tem os que, mesmo vivendo em paz, entram no mundo da violência estimulados pela mídia. Um rapaz, menor de idade, sabendo que outros, da idade, roubaram celulares e não ficaram presos apesar de detidos pela polícia, se encoraja para fazer o mesmo. Como o próprio noticiário dá ênfase, o menor de idade é imputável!

Como atenuar esse problema ou anulá-lo? 

A meu ver, a mídia deveria apenas noticiar e se restringir a isso sem repetições intermináveis. A notícia de um crime na TV costuma ser dado com muito alarde, sensacionalismo e exibição marcantes no período da manhã, da tarde e da noite e vira manchete de jornais e rádios. 

(*) Sherry Towers é uma estatística e cientista de dados americana e canadense e que trabalha na Alemanha.


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