segunda-feira, 2 de maio de 2011

Ponto de vista sobre a aprendizagem

       Como Professor do Ensino Médio desde 1966 e Diretor de Colégio desde 1980, tenho notado o aumento progressivo, ano após ano, do número de estudantes que logo nos primeiros fracassos, por mais simples que sejam, abandonam a escola, ou desistem de fazer a tarefa ou exercício ou de estudar uma disciplina. Para justificarem tal decisão costumeiramente declaram que “é muito difícil”, “que têm dificuldades para entender”, “que não têm paciência para fazer tudo de novo”, “que é entediante, chato”, que o “professor não motiva”, “que estudar não é para ele” e por aí afora.
Também, na maioria das vezes, notamos o apoio dos próprios pais que, aprovando essas argumentações do filho, passam a qualificar a escola como “muito difícil”, a apontar os “professores de fraca eficiência didática”, “que apoiam a mudança de escola porque esses fracassos diminuem a auto-estima do seu filho” ou que “pretendem contratar professores particulares” (como se o problema se resolvesse com a simples mudança de professor sem a mudança de atitude do aluno), ou “que não desejam que o filho perca o ano” etc. De modo geral, a culpa recai mais frequentemente sobre os professores ou a escola; raríssimas vezes sobre o estudante, o próprio filho.
Por outro lado, quando o professor é chamado as acusações se invertem porque ele responsabiliza principalmente o aluno e seus familiares pelos baixos desempenhos escolares. Esse embate entre docentes e familiares cada vez mais se acentua. Não vamos nos aprofundar nessa sequência porque não é essa a intenção.
Para agravar ainda mais a situação, elegemos um presidente que se engrandeceu por não ter estudado e se enalteceu por não ser diplomado.
Aos que agem dessa forma ou que assim pensam, cabe um esclarecimento importantíssimo, começando com uma frase, por nós adaptada, de Thomas Alva Edison (publicada em 1932):
“A aprendizagem, a descoberta e a invenção consistem em um por cento de inspiração e noventa e nove por cento de transpiração”.
Tinha infinitas razões para escrever tal frase porque testou, durante décadas a fio, mais de 6.000 materiais até chegar ao filamento de tungstênio da lâmpada incandescente que inventou. Se ele agisse como boa parte dos nossos alunos atuais, teria abandonado a pesquisa logo nos primeiros fracassos e se intitulado “incompetente”, mantendo, assim, a sua “auto-estima em grau elevado”, culpando, muito provavelmente, algo externo pelos seus insucessos, nunca a si mesmo. Ainda bem que os pais dele não lhe disseram que não “tinha vocação para isso” ou “que não servia para estudar”!
Analisando detalhadamente a trajetória de Edison, podemos dizer que ele praticamente passou uma vida repleta de malogros (foram 6.000 derrotas) e apenas um sucesso ao encontrar o filamento de tungstênio. Por esse sucesso ele é atualmente reconhecido; os seus fracassos foram esquecidos.
Com os estudos é que a gente desenvolve a capacidade de se recuperar dos erros e fracassos, como disse o Professor Doutor em Zoologia Paulo Vanzolini em sua música “LEVANTA SACODE A POEIRA E DÁ A VOLTA POR CIMA”.
O processo de aprendizagem requer longos períodos de concentração, trabalho mentalmente árduo de aquisição de conhecimento, de estudos contínuos e aprofundados (99% de transpiração) cometendo-se grande número de erros, assuntos mal entendidos, teorias confusas, exercícios complicados e com mudança de comportamento visando desenvolvimento de atitudes de aprendizagem, isto é, comportamento adequado à aprendizagem.
O pesquisador David Cahen, chefe do Departamento de Energia Alternativa do Instituto Weizmann de Ciências, Israel, debatendo sobre os problemas para o aproveitamento em grande escala de energia solar destacou a baixa capacidade de coleta e conversão tendo, também, nesse mesmo encontro, debatido sobre outras formas de energia que não nos cabe aqui discutir. Ele desenvolve estudos sobre a fotossíntese para entender e aprender com a natureza a melhor maneira de aproveitar a energia solar. (Jornal da Ciência; pág. 10; 15/04/2011). Nesse processo de observações, estudos e de aprendizagem sobre como a natureza resolveu o problema de aproveitamento da energia solar ele também colherá muitos fracassos e gastará muito tempo nessa busca, com grandes possibilidades de chegar ao final da vida só com insucessos, pois o resultado que busca é incerto. Só espero que entre um fracasso e outro ele não se sinta “incompetente” e que, por causa disso, abandone suas pesquisas ou que alguém da sua família o convença de “que não nasceu para isso”!

2 comentários:

  1. Para os pais é muito mais facil culpar a escola já que eles nao tem mais tempo para educar seus filhos ou passar um tempo de QUALIDADE com eles. Tudo é responsabilidade das escolas - tanto para coisas boas como ruins - e então, sobra para os professores. Este é o mundo de hoje, infelizmente.

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  2. Grande Diarone, parabéns pelo blog e pela escolha do tema discutido no artigo. Só para apimentar ainda mais a discussão: o próprio Edson insistiu em um erro conceitual ao imaginar que a distribuição de eletricidade se daria através do uso da corrente contínua, onde cada casa teria um gerador próprio. Tesla desenvolveu o sistema de corrente alternada que competiu com o projeto de um inventor já consagrado e dotado de maiores recursos financeiros. Ainda assim o sistema de Tesla mostrou-se mais viável e seus princípios são os mesmos utilizados até hoje. Mais um exemplo de superação e transpiração...

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