sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O ensino de Ciências no Brasil (II)

Continuando a abordar sobre o ensino de Ciências no Brasil, apresento, nesse artigo, o segundo tópico.
SEGUNDA PARTE
Os resultados das as pesquisas pedagógicas realizadas até agora pelo mundo afora, sem exceção, confirmam e reconfirmam uma máxima sobre o ensino de Ciências e de Matemática, assim sintetizada por William Schmidt, Universidade de Michigan, EUA, pesquisador renomado sobre ensino e aprendizagem dessas disciplinas: OS RESULTADOS MOSTRAM QUE QUANTO MAIS TÓPICOS VOCÊ INCLUI NO CURRÍCULO, PIOR É A PERFOMANCE DO PAÍS [portanto dos alunos (observação minha)] NAS AVALIAÇÕES INTERNACIONAIS E INTERNAS...
Partindo dessa comprovação, o que se pode dizer a respeito da organização curricular brasileira com as tais disciplinas ditas obrigatórias?
Constatamos que, à medida que os anos passaram mais disciplinas e assuntos foram incluídos no currículo do ensino básico e que, ao mesmo tempo, os resultados das avaliações despencaram, demostrando a piora cada vez mais acentuada da educação.
Dimuindo ainda mais a esperança de melhoras, tramita pelo Congresso Nacional a inclusão obrigatória de mais de 150 temas e disciplinas no Ensino Básico, como “Noções Básicas de Trânsito - uma maneira de formar futuros motoristas mais responsáveis -”, “Economia - ensinar os jovens a lidar com o dinheiro - “, “Saúde”, “Lei de Defesa do Consumidor - ensinar os jovens sobre seus direitos de consumidor -”,”EMC - educação moral e cívica, para incrementar a civilidade nos nossos jovens -”, “História dos Afrodescendentes”, “História dos Nossos Índios” e daí por diante. A partir de 2012 seremos obrigados, por imposição legal, a incluir Música no currículo do ensino básico.  Quer saber mais, acesse o site do nosso congresso e tome ciência dos projetos educacionais.
Enquanto Deputados, Senadores, representantes de ONGs , religiosos e Ministro da Educação procuram cada vez mais incluir novos temas e disciplinas, em detrimento das já existentes, os países com melhores índices educacionais concentram seus esforços em poucas disciplinas e cada uma delas com assuntos racionalmente selecionados. Em um livro didático de Biologia da Finlândia, notei que o número de títulos é menor do que ensinamos e cada um é tratado com mais profundidade e acompanhados de várias e diversas atividades. Portanto, a regra lá é: “ensina-se menos desde que os alunos aprendam bem”. Por aqui, “ensinamos mais e poucos ou quase nenhum consegue aprender o razoável”.
De modo geral, podemos dizer que só acrescentamos coisas para se ensinar e nada é retirado, o que implica em exigência de ampliação de tempo para aprendizagem. Essa foi a principal argumentação usada para aumentar de 180 para 200 dias letivos. A mesma justificativa já foi apresentada por Fernando Haddad, atual Ministro da Educação, para passar de 200 para 220 dias letivos.
A aprendizagem consome tempo e, por causa disso, os ensinamentos têm que ser dosados em graus crescentes de dificuldade e complexidade, sem saltos ou atalhos, e reforçados com atividades, PRATICADAS PELOS PRÓPRIOS ALUNOS, que acrescentem qualidade ao que é transmitido e deem significado e valor ao ensinado, repeitando a faxia etária dos educandos que estabelece os limites da aprendizagem. A experiência em nossas escolas tornam evidente que os planejamentos escolares consideram com carinho o TEMPO DE ENSINAMENTO [os professores estipulam números mínimos de aulas para que possam ensinar determinado assunto] sem levar em conta o TEMPO DE APRENDIZAGEM do aluno. O tempo é dosado pelo professor segundo suas necessidades, relevando-se em plano bastante inferior, ou nem considerando, o tempo necessário para o estudante aprender.

Por aqui, diga-se Brasil, ainda continuamos praticando as normas do Ratio Studiorum dos Jesuítas, criada em 1599, que tinha como ideia principal docete omnes gentes, ou seja, “ensinai, instrui e mostrai a toda gente a verdade”.
Com relação aos professores, consta numa das normas de Ratio Studiorum:Por onde começar o ensino”: Procure que os nosos irmãos comecem a ensinar em aulas que fiquem abaixo do nível científico para que assim, de ano para ano, se possam elevar com boa parte de seus alunos, a um grau superior

Com relação aos alunos, registra: Tranquilidade e silêncio: Nas aulas não vão de um para outro lado; mas fique cada um no seu lugar, modesto e silencioso, atento a si e aos seus trabalhos. Sem licença do Professor não saiam da aula. Não estraguem nem manchem os bancos, a cátedra, as cadeiras, as paredes, portas e janelas ou outros lugares, com desenhos, ou escrituras, com canivete ou de outra maneira.
A dinâmica da sala de aula ainda é a mesma de 1500, ou seja, as idéias, atitudes, práticas, valores do indivíduo ou do grupo são ultrapassados e não condizentes com a nossa época. Parece até que Ratio Studiorum foi escrita hoje!
Por fim, para agravar ainda mais o problema, as escolas decidiram transformar o terceiro colegial em terceirão, cuja essência é a revisão para os vestibulares. Assim procedendo, a matéria que deveria ser ensinada em 3 anos agora é em 2!!!! Já está consagrado na Pedagogia e Psicologia que ao se ensinar muita coisa em pouco tempo o rendimento da aprendizagem é comprometido.

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