quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O ensino de Ciências no Brasil (I)

Como o assunto contém aspectos peculiares diversos e extensos, o tema que passo agora a escrever será dividido em três partes, numeradas por I, II e III.
     A última classificação divulgada da prova de Ciências do PISA mostra o Brasil na 53a posição numa lista de 65 países avaliados. Estamos a frente de Montenegro, Jordânia, Tunísia, Albânia, Quirgistão, Azerbaijão e atrás de Colômbia, Trinidade Tobago … Os seis primeiros, na ordem decrescente das médias, são: Shangai (China), Coréia, Finlândia, Hong-Kong (China), Singapura e Canadá. Repare naquilo que não é coincidência: os últimos são países economicamente fracos e administrativamente subdesenvolvidos com população desasisstida; exatamente o contrário do que se observa entre os primeiros.
     O Brasil com média 412, Shangai, o primeiro, com 556 e Quirgistão, o último, 314. Estamos a 98 pontos do último e a 154 do primeiro. A OCDE, entidade sediada em Paris, organizadora do PISA, admite 400 como piso de pontos, ou seja, como a menor média admissível; abaixo dela o sistema educacional nem ruim é, pois inexiste. E nós estamos um pouquinho acima desse nível horroroso. O Brasil está mal há décadas, com médias oscilando ao redor disso, estacionado próximo a essa posição. Mudam governos e a educação continua na mesma.
     O que causa estranheza é que a Educação Brasileira, na última década, só melhorou - e muito pouco - nas avaliações internas, como SAEB, SERESP, Prova Brasil … . Regozijando-se, o governo federal até lançou, no ano passado, propaganda na TV divulgando que as médias tinham passado de 3,4 para 3,6 e que a meta para 2012 era 4,0, como se esse crescimento, apesar de pífio, fosse resultado decorrente dos seus investimentos e trabalhos com educação.
     Por ser insignificante, quem tem um mínimo de conhecimento estatístico atribui essa diferença ao acaso. Ela só terá significado se se repetir por no mínimo 6 anos seguidos, período esse que corresponde à metade da soma dos 9 anos do Ensino Fundamental com os 3 anos do Ensino Médio (9 + 3 = 12).
     Por enquanto, só nos resta fazer um questionamento: “como se ensina ciências no nosso país?”. É justamente essa a questão que procurarei responder em três partes.


PRIMEIRA PARTE
     No ensino fundamental, a Ciência é ensinada de forma lúdica, isto é, com brincadeiras e diversão.
     Crianças ensinadas dessa forma acabam se interessando mais pela própria brincadeira do que pela Ciência que está sendo ensinada. As regras das brincadeiras despertam muito mais interesse sendo, por isso, rapidamente e “alegremente” assimiladas enquanto que o domínio do conhecimento científico pouco é incorporado ao seu conhecimento. Tanto é verdade, que tempos depois, quando solicitadas para se recordarem das atividades, as crianças o fazem com facilidade; o conhecimento pretendido com a dita atividade lúdica raramente vem a mente delas de forma equivalente!
     Nota-se claramente uma reversão total do ensino porque a brincadeira, que seria o meio empregado para se alcançar o fim da aprendizagem científica, acaba virando o fim e os ensinamentos científicos, o meio. Os jovens se recordam até dos detalhes das brincadeiras e vagamente lembram do conteúdo ensinado.
     O ensino adequado de Ciências raramente atinge seus objetivos porque exige professores muito bem qualificados e empenhados naquilo que fazem e laboratórios com um mínimo de equipamentos que, sob a gestão do professor, se transforme num ambiente atrativo, que estimule a pesquisa e desperte a curiosidade da criança.
     Até esse momento da minha vida profissional, iniciada em 1966, como professor de Ciências e de Biologia, só conheci três escolas - Colégio Experimental da Lapa, Colégio de Aplicação da USP e Colégio Estadual Infante Dom Henrique, na Vila Matilde, na cidade de São Paulo - que tinham patrimônio pedagógico suficiente para que se ensinasse ciência como deve ser.
     A minha experiência na FUNBEC (Fundação Brasileira para o Ensino de Ciências), IBECC (Instituto Brasileiro de Educação, Cultura e Ciências) e CECISP (Centro de Treinamento para Professores de Ciências de São Paulo PREMEN) - todos na USP - , como instrutor de professores de Ciências do Ensino Fundamental testemunhei a carência de qualificação deles. Professores tão mal preparados desestimulam as crianças além da má qualidade do ensino que ministram.
     Até o conteúdo é deformado! Sempre que ensino fotossíntese e respiração no primeiro ano do Ensino Médio (1o colegial) questiono se é verdade que a “planta respira de um modo durante o dia e de outro a noite?”. Sim, é a resposta unânime, demonstrando que lhes foi ensinado conceitos totalmente errados. Um absurdo!
      Para que essa situação se reverta e que a criança mais aprenda do que brinque, os professores precisam ser bem mais qualificados e aprimorados, capazes de extrair grandes benefícios de ensinamentos que os laboratórios proporcionam e que as atividades extras contibuam para a aprendizagem científica.
     Levantamento feito pelo MCTI (Ministério de Ciência e Tecnologia da Inovação), órgão federal, mostra que menos de 3% das saídas dos alunos das escolas atendem a essa necessidade; e que mais de 70% das excursões são organizadas principalmente para passeios em Shopping, Hopi Hari, Playcenter, Praias e Parques, passeios que mais entretêm do que ensinam, educando as nossas crianças, isso sim, para serem consumidoras vorazes!
     O uso da tecnologia substituindo a presença do professor pelo ensino a distância; a do laboratório pelos vídeos ou simples demonstrações em sala só vêm agravar ainda mais o problema.

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