quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Chuvisco e Bola-branca


Na minha adolescência e juventude (estou com 64 anos), o Ensino Fundamental II chamava-se Ginásio e o Ensino Médio atual era dividido em quatro áreas: o Científico de Biológicas, o Científico de Exatas, o Normal e o de Humanas.

Exatas, biológicas e humanas preparavam seus alunos para os vestibulares dessas respectivas áreas; o Normal formava professoras do ensino primário (Ensino Fundamental I), as famosas normalistas.

Cursei o Científico Biológicas no Instituto de Educação Domingos Faustino Sarmiento, no bairro do Brás, em S. Paulo. O ginásio foi em Marília, SP.

As notas eram de 0 (zero) a 100 (cem) e mensais. Hoje, são bimensais ou trimensais. Além disso, tínhamos os exames do final do primeiro semestre (junho) e no final do ano (dezembro). Por causa disso, fazíamos muito mais provas que hoje e com bastante frequência eram orais. Quantas provas orais que fiz!!!!!!

Não atingindo a média de aprovação no final do ano (média = 50,0) o aluno ficava de 2ª época que consistia num novo exame final, realizado em fevereiro do ano seguinte, cuja nota servia para completar o que faltava para aprovação.  Podia-se ficar no máximo em 3 disciplinas. Era a única chance que se tinha caso não tivesse atingido a média no final do ano. Quem ficava de 2ª época era obrigado a passar as férias de janeiro estudando em casa. Tudo corria por conta do aluno. Nada de aula ou atividade de recuperação ou coisa parecida.

Provas de recuperação durante o ano letivo, nem se cogitava; Conselho de Classe ainda não tinha sido instituído e o professor aconselhava os alunos a estudarem mais caso alguém recorresse a ele solicitando nova chance para melhorar nota. Nova chance! Melhorar nota! Nem pensar!

O rigor da disciplina era muito mais apurado. Qualquer ação do aluno que contrariasse o professor, ou bedel ou a direção, a suspensão era a consequência natural, praticamente sem direito a defesa.

O Professor constatava a indisciplina e o Diretor suspendia sem pestanejar. Professor e Diretor tinham autoridades indiscutíveis e decisões inegociáveis.

Lembro-me de um episódio com o professor de Português, chamado Luiz Antônio, apelidado de "Bola-branca" porque tinha cabelos brancos e sua cabeça parecia com uma bola de bilhar branquinha e redondinha. Certa vez, o Bactéria, um colega da sala, amassou uma folha de caderno e a arremessou até o lixo. A pelota de papel voou pela sala. O "Bola-branca" viu; o colega foi encaminhado à Direção e suspenso por dois dias. Lembro-me que ele nos convidou para irmos até a Praia Grande porque aproveitaria a suspensão para passar alguns dias na praia. “Chuvisco”, o Diretor, passou um sermão para a turma dizendo que ele deveria esperar o intervalo para se levantar e levar andando o papel, em vez de arremessá-lo. Era apelidado por nós de “Chuvisco” porque tinha a língua presa e cuspia pequenas gotas de saliva quando falava alto com os alunos.

É claro que os apelidos "Bola-branca" e "Chuvisco" eram termos que ficavam entre nós. Imagina só chamar um professor ou diretor pelo apelido. Seria expulso da escola!

Agora, entre os colegas, só nos tratávamos pelo apelido. O meu era "Pascoalão", por causa do meu sobrenome Paschoarelli e estatura (1,87m), tinha o Bactéria, o Coquinho, o Mentira (mancava de uma perna), o Lalau (era o Alaor), o Passe-bem, o Esquina e muitos outros que agora não me lembro. Todos entraram na USP. O Bactéria e o Coquinho na Odontologia, o Passe-bem na Pinheiros, o Esquina e o Mentira na Poli, o Lalau na São Francisco. Note que a gente estudava numa escola pública.
Hoje, com todas as facilidades que o sistema educacional brasileiro oferece ao aluno, ele consegue passar de ano sabendo muito pouco, passa de série após série sem saber fazer contas simples e nem escrever corretamente e bem. Com tantas "provas de recuperação", "trabalhos para ajudar na nota", "conselho de classe", "provas fáceis",  "atividades de recuperação" o aluno atual para ser reprovado precisa ser caprichoso e aplicado. Não é qualquer um que consegue tal proeza!

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